Com deficiência na articulação com o Legislativo, Dilma se viu encurralada para garantir a governabilidade e acabou batendo de frente com o espírito dos movimentos de rua (Foto: Antonio Cruz/ABr)
Por Gilberto Prazeres
Do Blog da Folha
A decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) de liberar R$ 6 bilhões em emendas parlamentares até o final do ano – como fim exclusivo de acalmar a base aliada no Congresso -, a alteração na proposta do Programa Mais Médicos e ainda a suspensão da portaria reduzindo de 18 para 16 anos a idade para o início do tratamento de mudança de sexo podem soar como mais alguns atos falhos da petista nesse momento tão conturbado. Com uma comprovada deficiência na articulação com o Legislativo, ela se viu encurralada para garantir a governabilidade e acabou batendo de frente com o espírito dos recentes movimentos de rua, utilizando uma das práticas mais questionáveis da política: o chamado “toma-lá-dá-cá”. Dilma, que já não conseguiu emplacar a convocação de uma Assembleia Constituinte específica, para a promoção de uma reforma política também acumula, o engavetamento do seu desejo de realizar um plebiscito com o mesmo objetivo.
Ontem, o governo da presidente Dilma teve que recuar na proposta do Programa Mais Médicos considerada estratégica para a recuperação da imagem de sua comandante. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou que será alterado o texto que ampliava em dois anos os cursos de graduação em medicina, o que não acontecerá mais. Para completar, o Planalto suspendeu em menos de 24 horas os efeitos de uma portaria anunciada ainda ontem, no Diário Oficial da União, reduzindo de 18 para 16 anos a idade para o início do tratamento de mudança de sexo.
Para o cientista político Hely Ferreira, “o governo não tem uma agenda de negociação, e tomou uma decisão de forma imediatista, de forma pragmática, sem ouvir as partes envolvidas”. De acordo como especialista, o fato de a presidente ceder à pressão de uma parte de sua base pela liberação das emendas mostra a fragilidade de um governo que tenta resolver os entraves que o cercam com ações imediatistas, sem o devido aprofundamento dos debates necessários. “O governo dá um tiro no pé. Mostra a sua fragilidade e a realidade de que está de joelhos diante do efeito das mobilizações que tomaram as ruas do País”, atestou o docente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Integrante da oposição na Câmara Federal, o deputado Sérgio Guerra (PSDB) afirmou que a liberação das emendas é a materialização de um mecanismo disfarçado de compra de apoio legislativo. “Deputado tem salário. Essa proposta equivale a um mensalão disfarçado”, disparou. Cada parlamentar tem direito a destinar até R$ 13 milhões por ano em ações orçamentárias do Governo Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário