O decreto 32.341, assinado em 2008 pelo então governador Eduardo Campos, previa que a Polícia Civil de Pernambuco deveria chegar a 2015 com um efetivo de 10,4 mil profissionais, entre delegados, agentes e escrivães. A poucos dias do final do ano, menos da metade desse contingente está nas ruas e delegacias: um total de 4,8 mil policiais responsáveis por investigações, prisões, elaboração de inquéritos e cumprimento de mandados judiciais.
Um déficit que tem consequências diretas na política de segurança pública do governo do Estado, o Pacto pela Vida, que pela primeira vez nos oito anos da gestão Eduardo Campos/João Lyra Neto, vai terminar no vermelho: ao invés de queda, um aumento estimado de 10% no número de homicídios.
Em pouco mais de sete anos, de janeiro de 2007 a maio de 2014, 2.905 pessoas ingressaram na Polícia Civil, entre delegados, agentes e escrivães. No mesmo período, saíram 2.147, seja por aposentadoria, morte ou por terem optado por outros empregos.
No mesmo período, foram criadas 79 novas unidades, entre delegacias especializadas e comuns. A conta é simples: a quantidade de profissionais que entraram e deixaram a instituição é praticamente a mesma (diferença de apenas 758 pessoas), sendo que a população do Estado aumentou em 800 mil pessoas, segundo dados do IBGE (de 8,4 milhões em 2007 para 9,2 milhões em 2014).
Sem delegados, agentes ou escrivães, muitas delegacias, principalmente no interior, estão fechando nos finais de semana, e muitas vezes à noite, nos dias de semana.
Segundo dados do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol), essa é a realidade das unidades de Jatobá, Iati, Saloá, Águas Belas, Lagoa do Ouro, Correntes, Jupi, Jucati, Terezinha, Brejão, Bom Conselho, Calçado, Jurema, Caetés, todas no Agreste. Dormentes, Santa Filomena e Moreilândia, no Sertão do Estado.
“Nestas cidades não se pode registrar ocorrências ou realizar diligências nesses dias”, afirma o presidente do Sinpol, Áureo Cisneiros.
Desanimados, muitos policiais estão mudando de profissão. Hoje técnica judiciária, Leidiane Lacerda passou dois anos e meio, entre 2008 e 2011, como agente de polícia. Achou que não valia a pena ganhar o que ganhava para receber a pressão descomunal de cumprir as metas do Pacto.
“Se a Polícia Civil pagasse mais, eu provavelmente estaria lá, pois gostava do serviço”, diz. O mesmo argumento é utilizado pelo funcionário público Luiz Gonzaga Jr, que também foi agente por seis anos, de 2008 a 2014. “Cobrava-se muito, mas sem dar salário digno e estrutura necessária para o trabalho”, afirma.
Para o presidente do Sinpol, o cenário é de um iminente colapso na instituição. “Não é exagero algum usar essa palavra. Os policiais estão desanimados por terem trabalhado tantos anos sob pressão para cumprir as metas do Pacto pela Vida, e depois desse tempo todo não ver esse esforço revertido em melhores condições de atuação”, diz Áureo Cisneiros, recém-empossado, no lugar de Cláudio Marinho, que passou os últimos 10 anos à frente da entidade.