"As tarifas, vocês sabem, estão todas definidas. Elas entram em vigor amanhã", disse o presidente. Trump ainda afirmou não haver espaço para negociações com os países, frustrando expectativas de autoridades canadenses e mexicanas.
O presidente dos EUA Donald Trump durante coletiva de imprensa no Salão Oval, na Casa Branca. - Leah Millis/Reuters
A confirmação foi feita pelo republicano durante uma entrevista na Casa Branca nesta segunda-feira (3), enquanto anunciava um acordo com Taiwan para a produção de chips nos EUA.
As declarações do presidente americano tiveram efeito imediato no mercado, com a queda de ações de empresas no país. O S&P 500 caiu 1,75%, para 5.850,31 pontos, a maior queda diária do índice neste ano. O Nasdaq Composite perdeu 2,64%, para 18.350,19 pontos. Já o Dow Jones Industrial Average registrou queda de 1,47%, para 43.197,30 pontos. A situação das ações individuais foi ainda pior, com a fabricante de chips Nvidia despencando 8,69% e o grupo de energia ConocoPhillips caindo 6,58%.
As ações de empresas também se desvalorizaram devido à divulgação de dados que indicaram retração na produção industrial americana em fevereiro.
Os comentários de Trump vieram um dia após seu secretário de comércio, Howard Lutnick, sugerir que a extensão e o momento das tarifas planejadas ainda seriam definidos, descrevendo a situação como "fluida".
A justificativa do presidente americano para impor as tarifas aos vizinhos é que os países teriam permitido entrada descontrolada de imigrantes e drogas, particularmente o fentanil, para os Estados Unidos.
A imposição das tarifas de 25% a Canadá e México foi anunciada em 1º de fevereiro e entraria em vigor no dia 3 do mês passado. Trump, porém, pausou as aplicações das taxas por um mês após negociações com as nações vizinhas, que se comprometeram a reforçar a segurança nas fronteiras. O presidente, no entanto, manteve a promessa de aplicar tarifas de 10% a produtos chineses —que serão dobradas agora para 20%.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou nesta segunda, por exemplo, que as reuniões das autoridades mexicanas com as americanas foram "muito boas". A presidente ainda usou dados para atestar que houve uma queda de 49,9% de apreensões de fentanil na fronteira com os EUA desde outubro até janeiro. Depois, afirmou que aguardaria a decisão de Trump.
"Nós temos um plano, A, B, C", afirmou Sheinbaum em relação às tarifas. "Qualquer que seja a decisão [de Trump], também tomaremos nossas decisões."
Um conjunto de bens podem ser impactados pela imposição de tarifas. Os EUA importam carros e peças do México e Canadá. Deste último, recebe também insumos primários, como ferro, alumínio e gás. Já a China exporta uma gama de produtos, entre eles computadores, brinquedos, entre outros.
Segundo a CNN, em 2022, 90% dos avocados, tipo de abacate consumido nos Estados Unidos, foram importados, dos quais 89% vieram do México.
Os únicos bens a serem isentos dos 25% que Trump cobrará do Canadá são o petróleo e produtos energéticos do país, que terão tarifa de 10%. O Canadá é o maior fornecedor estrangeiro de petróleo para os EUA, representando cerca de 60% de suas importações de petróleo bruto.
O ministro de energia e recursos naturais do Canadá, Jonathan Wilkinson, afirmou nesta segunda que os americanos vão experimentar alta no preço de energia e gasolina com as novas tarifas.
"Veremos preços mais altos de gasolina como uma função da energia, preços mais altos de eletricidade da hidreletricidade do Canadá, preços mais altos de aquecimento residencial associados ao gás natural que vem do Canadá e preços mais altos de automóveis", afirmou o ministro em entrevista à CNBC.
Nesta segunda, ao confirmar a imposição de tarifas, Trump disse que as taxas só seriam amenizadas caso os países transferissem duas fábricas e manufatura para dentro dos EUA.
"Então, o que eles têm que fazer é construir suas fábricas de automóveis, francamente, e outras coisas nos Estados Unidos, caso em que não terão tarifas", disse ele.
Quando questionado nesta segunda-feira sobre quais seriam as tarifas máximas que ele aplicaria contra as importações chinesas, ele respondeu: "Não posso dizer, depende do que eles fazem com sua moeda, depende do que fazem em termos de... algum tipo de retaliação econômica."
Trump acrescentou que não esperava que Pequim "retaliasse muito".
Trump também já ameaçou impor tarifas de 25% sobre aço e alumínio, gerando caos pela indústria dos EUA, com empresas que vão da manufatura até perfuradoras de petróleo e gás enfrentando custos crescentes para os metais.
Os EUA importam mais do que exportam esses bens e a aplicação das tarifas atingiria em cheio o Brasil, um dos principais fornecedores desses bens.
Muitos executivos estão correndo para encontrar maneiras de mitigar a turbulência política e as consequências do aumento dos preços, mesmo que as tarifas de 25% só entrem em vigor daqui a cerca de mais um mês.