Ao passar apenas 15 minutos em solo pernambucano, a presidente Dilma Rousseff (PT) deu uma demonstração cabal de que só veio mesmo fazer imagens para a propaganda eleitoral. Uma produtora de televisão e a TV Brasil, oficial, tiveram exclusividade no acesso aos curtos passos da presidente na estação de bombeamento e no cumprimento aos trabalhadores.
Dilma mudou diversas vezes o roteiro que cumpriria no estado. Foi um montado um serviçode som para ela mandar uma mensagem aos trabalhadores no canteiro de obras, mas nemisso foi possível. Apressada, a presidente desceu do helicóptero e se dirigiu imediatamente à estação elevatória, que está 60% concluída.
Foi o tempo relâmpago para imagens. Em seguida, chegou ao tablado em que se encontravam as autoridades à sua espera, entre elas o governador João Lyra Neto (PSB), a quem cumprimentou rapidamente e saiu em disparada em direção aos trabalhadores, que a aguardavam em pelotões, devidamente trajados.
O que fez a presidente passar pouco tempo ou quase adiar sua visita ao estado foi o ambiente de tensão que se instalou na cidade de Cabrobó desde o momento em que o prefeito Auricélio Torres (PSB), aliado do ex-governador Eduardo Campos (PSB), ameaçou organizar um protesto contra a forma como seu município vem sendo tratado pela União.
O prefeito disse, dois dias antes, que havia desistido da manifestação, mas o que se ouviuentre seus próprios aliados foi que ele deu todas as condições para organização do protesto,disponibilizando o deslocamento dos manifestantes até a BR-428, que dá acesso ao local em que a presidente queria se dirigir os trabalhadores da obra.
Ex-prefeito e hoje rompido com o atual gestor, Eudes Caldas, que estava entre as autoridades na recepção à Dilma Rousseff, acusou Torres de promover baderna. “Não se faz protesto contra um presidente. Ele errou, deu uma grande mancada”, reagiu Caldas, ao condenar a manifestação e apontar o dedo do prefeito na sua organização.
Responsável ou não pelo protesto, o fato é que Auricélio Torres, tão logo a presidente embarcou rumo a Brasília, foi ao encontro dos manifestantes para “negociar”, com o apoio da Polícia Federal, o fim do bloqueio da estrada, que provocou um grande transtorno no local, ocasionando um engarrafamento de pelo menos vinte quilômetros de extensão.
Aliados da presidente e os próprios trabalhadores, que esperaram a sua chegada por mais de quatro horas em pé, no sol, saíram do local insatisfeitos. Um pequeno grupo chegou aensaiar uma vaia quando ela se dirigiu de volta ao helicóptero. “O que ela veio fazer aqui? Eunão sei”, reagiu o operário José Raimundo.
O prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB), percorreu mais de 200 km para chegar ao evento pensando que ouviria a fala da presidente. “Eu vim preparado até para falar, foi frustrante”, disse Lóssio, para quem a obra da transposição deve ser tornar uma realidade, mesmo andando lentamente. “Grandes projetos levam anos para acabar”, afirmou.
Do lado de fora, na entrada do Trecho 1 da Transposição do São Francisco, índios da tribo truká, de Cabrobó, protestavam contra a presença de Dilma, a falta de investimentos na região e a própria obra. “Um projeto que não vai dar certo”, disse o índio Iozan.
O bloqueio da rodovia federal contou com o reforço de estudantes que trocaram figurinhas pelas redes sociais, além de trabalhadores rurais da área de sequeiro.
Os trechos em obra da transposição empregam, hoje, 10,3 mil trabalhadores, mas a estaçãoelevatória que a presidente visitou em Cabrobó emprega menos de 400 operários, tendo passado cincos anos com suas obras paralisadas. O Governo Federal trabalha com o prazo de concluir todo o projeto em 2015, ao custo de R$ 8,2 bilhões.
Escrito por Magno Martins