Rafael Correa sofreu pela primeira vez uma derrota eleitoral
O presidente do Equador, Rafael Correa, sofreu pela primeira vez uma derrota eleitoral, depois de eleições locais em que a oposição ganhou nas principais cidades, arranhando sua imagem de político imbatível, segundo analistas.
Correa, eleito ano passado para um novo mandato de quatro anos, foi o grande perdedor da votação, por ter transformado a eleição em um referendo de apoio ao seu governo."Isso não vai afetar significantemente seu governo, mas vai ter consequências. Agora que ele não tem mais uma imagem de invencível", afirmou o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais.
O presidente, que governa com alto índice de aprovação e maioria parlamentar, falhou na tentativa de transmitir sua popularidade aos candidatos governistas.
Apoiado em sua liderança e nos sete triunfos eleitorais conquistados desde que chegou ao poder, em 2007, Correa tentou passar a ideia de que uma derrota do governo comprometeria o futuro da "Revolução Cidadã", projeto socialista comandado por ele, em parceria com Venezuela, Bolívia e Argentina.
Tanto o kirchnerismo na Argentina como o chavismo na Venezuela governam com a oposição administrando as capitais. Os resultados oficiais e as pesquisas de boca-de-urna indicavam uma derrota da Aliança País, partido fundado pelo presidente, nas principais cidades do país, incluindo a capital Quito, onde o prefeito Augusto Barrera - ligado a Correa - tentava a reeleição.
A oposição de centro-direita conseguiu se manter no poder de Guayaquil e conquistar as prefeituras de Cuenca e Portoviejo, terceira e quarta cidades mais importantes do Equador, e de Manta, principal porto pesqueiro do país.
O partido ainda foi derrotado em governos estaduais importantes da Amazônia e do sul do país, onde existe uma forte resistência a seus planos petroleiros e mineiros.
Dúvidas sobre as eleições de 2017
No entanto, o projeto de Correa "não está esgotado. O que acontece é uma mistura de votos em oposição ao governo e de repúdio a gestões municipais", indicou à AFP Manuel Alcântara, professor da Universidade de Salamanca e especialista em eleições na América Latina.
O que ficou evidente, acrescentou, é que o governo "não avançou em nada na construção de um partido político de âmbito nacional", e isso explica "sua fraqueza em lugares onde é fácil articular propostas opositoras".
Correa reconheceu no domingo como um "doloroso revés" a perda do comando de Quito, e revelou o temor de que a capital atrapalhe a governabilidade do país. No entanto, evitou falar em um fracasso da Aliança País, destacando que o partido ganhou muitas prefeituras e ao menos 9 dos 23 estados.
O presidente admitiu que "terremotos fazem bem", e reconheceu que o partido errou ao preferir candidatos próprios, em vez de apostar em acordos eleitorais onde não era forte.
Correa "classificou essas eleições como um apoio ou repúdio à Revolução Cidadã, mas teve que mudar radicalmente de discurso porque se deu conta do erro que isso significava", explicou Pachano.
Daniel Montalvo, diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade de San Francisco de Quito, concorda com Pachano que a Aliança País mostrou que não é uma força consolidada, o que abre interrogações sobre as eleições presidenciais de 2017, a qual Correa está impedido por lei de tentar um novo mandato.
O presidente já descartou que vá alterar a Constituição para disputar novamente as eleições, mas Pachano acredita que os resultados recentes podem levá-lo a mudar de ideia.
No entanto, "apesar de a oposição conseguir bons resultados em localidades restritas, hoje é uma tarefa muito complexa construir um bloco nacional", conclui Alcántara.
Da AFP
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