Colunista de Veja.com diz que jornalistas devem "dispensar-se de cautelas farisaicas". É hora, diz ele, de "contar o que muitos sabem desde o século passado". Ex-diretor de redação que, nos seus tempos de glória, ocultou deliberadamente o romance entre FHC e uma jornalista da Globo, hoje compara a ex-chefe de gabinete da presidência à Marquesa de Santos, amante de Dom Pedro I; abriu-se a porteira
Entrevistado por Palmerio Doria, para uma reportagem da revista Caros Amigos, sobre os motivos que levaram todos os diretores de redação da imprensa brasileira a omitir, durante oito anos, um romance entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e uma jornalista da Globo (a repórter Miriam Dutra), o jornalista Augusto Nunes saiu-se com uma explicação que é a negação do jornalismo. Se um desse, todos dariam. Se ninguém publicasse, ninguém publicaria. Ou seja: um pacto de silêncio. Neste sábado, a Folha encontrou mil maneiras de dizer que Rosemary Nóvoa de Noronha é amante do ex-presidente Lula sem usar a palavra proibida. Reinaldo Azevedo, que já havia chamado Rose de "a mulher do Lula", destacou o texto. E, agora, Augusto Nunes dispara: "Rose é amante de Lula". O blogueiro de Veja.com comparou ainda a personagem à Marquesa de Santos, amante de Dom Pedro I. Leia:
Amante, segundo o Aurélio, é a palavra que se aplica a “pessoa que tem com outra relações extramatrimoniais”. O dicionário autoriza o uso dos sinônimos amásia, concubina e amiga. Assaltada por um surto de pudicícia, a imprensa escolheu a terceira opção para referir-se a Rosemary Noronha.
Depois da reportagem publicada pela Folha neste sábado, traduzida brilhantemente por Reinaldo Azevedo, os jornalistas podem dispensar-se de cautelas farisaicas e contar o que muitos sabem desde o século passado: Rose é mais que amiga de Lula. É amante.
Em Taquaritinga, ninguém confunde amizade com amigação. Lá na cidade de onde eu venho, todo lula-com-rose — seja ele o prefeito ou o mais humilde eleitor — não tem uma amiga: tem amigada. As duas letras a mais eliminam quaisquer dúvidas adubadas por ambiguidades.
Estou invadindo a privacidade do ex-presidente? Conversa fiada. A descoberta de mais uma quadrilha acampada na administração federal reafirma que quem confunde o público e o privado é Lula. Ele garantiu o sustento de Rose com o dinheiro dos pagadores de impostos. Quem transformou uma relação íntima em gazua foi ela.
O noticiário sobre o escândalo da vez, que está apenas em seu começo, precisa substituir imediatamente esse pundonoroso “amiga” pela expressão correta. Amigada, admito, soa um tanto vulgar. “Amásia” lembra manchete de jornal de antigamente. “Concubina” é adereço de monarquias. Fiquemos com a velha e boa “amante”.
Como os seus sinônimos, “amante” tem numerosas contra-indicações e os efeitos colaterais podem ser devastadores. Mas é a palavra certa. E o primeiro mandamento do jornalismo ordena que se conte a verdade.
PS: Reproduzo e endosso o recado de Reinaldo Azevedo aos leitores: “Não deixem que a sordidez da história contamine os comentários. Há sempre o risco de se ultrapassar a linha do decoro em temas assim. Façam o que Lula não fez”.
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