Papa defende melhoria de serviços públicos, uma das bandeiras dos protestos (Foto: Tomaz Silva/ABr)
Ao longo de uma semana de estadia no Brasil para participação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o politizado discurso que o papa Francisco entoa desde o início do seu pontificado pareceu encontrar ainda mais ressonância, sobretudo por conta do efeito da série de manifestações que tomaram, há mais de um mês, conta do País. A defesa de uma participação maior da Igreja Católica nos debates que dominam a sociedade, como a melhoria de serviços públicos essenciais, dialoga com o difuso movimento das ruas e ressalta a lembrança de que o sumo pontífice, além da liderança religiosa, exerce o papel de chefe de Estado.
O Vaticano é uma cidade-Estado soberana, que conta com suas próprias leis, embora, devido à religião, a sua influência ultrapassa os limites territoriais e a representatividade e o poder canalizados em seu líder maior extrapolam o próprio sentido do sacerdócio. A recepção proporcionada pelos católicos brasileiros ao papa Francisco, no início da semana, certamente não se repetiria com nenhum líder de outra religião ou chefe de Estado.
A euforia demonstrada com a chegada de Jorge Mario Bergoglio ao Brasil, que remeteu, em alguns momentos, a adoração a um tipo de expressão de santidade ou personificação da mesma, ignora a política envolta à figura do líder maior da Igreja Católica. Contudo, parece ser justamente esse tratamento sacro que garante a legitimidade das relações internas e externas distante do caráter religioso do Estado da Cidade do Vaticano.
“O papa simboliza tudo aquilo que a gente, enquanto cristão, espera ser. Representa uma figura santa, uma espécie de ídolo, de líder que nos guia”, exalta o católico fervoroso Maurício Lopes, que ressalta a inexistência da relação entre a fé depositada no líder da Igreja Católica e os entraves políticos que a cercam. “Independente do que ocorra de errado, dos problemas da Igreja, não há mudança na fé. É essa fé que supera os erros da Igreja”, destacou. Ele acompanha, do Recife, toda a movimentação realizada pelo sumo pontífice durante a JMJ, no Rio de Janeiro.
O historiador Tomé Costa Monte analisa que é justamente nesse perfil de fé que se distancia da política que o Vaticano aposta para a manutenção de sua estrutura e influência. “Quando eles estão diante de um problema, de um escândalo, abafam com a fé”, atestou, destacando que o instrumento é um mecanismo eficaz que garante a sobrevida da instituição ao longo dos séculos.
O estudioso lembra que, no século V, na fase de transição da História que possibilitou o nascimento da Idade Média, o papa Zacarias firmou o primeiro grande acordo político da Igreja Católica. O então sumo pontífice concordou em garantir o surgimento do Império comandado por Pepino, o Breve, em troca de terras e de apoio bélico contra o povo lombardo, no antigo território franco – hoje, a Itália. “Pepino precisava que a Igreja concordasse com o seu título de rei e ela aceitou num acordo político que garantiu a sua continuidade”, ponderou.
Por Gilberto Prazeres
Do Blog da Folha
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