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quinta-feira, 14 de março de 2013

Condenação à morte


 

Tivemos de chegar à metástase do crack para que, de repente, o Brasil acordasse para o problema da droga. Mas antes tarde etc. Por outro lado, nos jornais e on-lines, pululam amadorismos bem-intencionados. Pessoas que só sabem de droga pelos manuais, por alguma breve experiência com maconha na juventude ou por passar de carro pelas proximidades de uma cracolândia pontificam a respeito. Ao cantar de um galo à distância, julgam ouvir a palavra 'higienismo' e logo se põem contra a internação involuntária.

As famílias dos dependentes sabem melhor do que falam -sua experiência de ter em casa um escravo do crack ainda não foi, nem de longe, tratada pela literatura. E por que 'em casa', perguntará você, se o dependente se muda para a cracolândia? Porque a casa é para onde ele sempre volta, para pegar ou tomar o que ainda possa ser vendido e lhe valer uma pedra -dos bens e joias da família a lustres, móveis, esquadrias.

Tais famílias não suportam ver seu filho ou neto receber 'alta' e ser devolvido às ruas pelos que o internaram apenas um mês antes -para abrir novas vagas, denunciam elas, e maquiar as estatísticas de 'atendimento'. Se isso de fato estiver acontecendo, é lamentável -mas não basta para desqualificar todo o sistema de internação, que apenas começa a ser posto em prática.

Também não tem sentido o raciocínio de que, como historicamente o homem sempre se drogou, não adiantam os bilhões investidos na repressão, porque ele voltará a se drogar, não importa com o quê. Bem, o homem também sempre ficou doente. Significa que a medicina e a pesquisa científica devem fechar as portas pois, não importam os seus avanços, o homem voltará a ficar doente e morrerá?

Uma alta prematura é quase sinônimo de recaída. Mas o abandono na rua já é uma condenação à morte. (* Folha de S.Paulo)

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